sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Mea Culpa: quando é de todos, de ninguém, e particularmente minha.

Dignificando a dormência televisiva, anseio pelo comando, apenas para me aperceber de que este não existe, e amolecem-me as expectativas fulcrais ao conforto milenar da placidez ignorante. Os olhos semi-abertos, a garganta seca e a pele óleosa, buscam fagulhas brevissímas, que contrastam com a luz e o fumo. Devagar, com a lentidão com que uma sombra se constroi quando as nuvens levantam e se separam para acompanhar uns momentos de sol, uma presença quase física desperta dentro das imediações da sala, com ruídos sinuosos e confusos, avisando-me de que qualquer coisa se deslocou, que qualquer coisa está fora do lugar. A minha mão pálida avança e treme perante a presença, uma sombra que assusta ao distorcer a forma. Mas o medo apenas atinge o pico, e transforma-se em terror irreal e insensato, ao reparar que a forma distorcida, a sombra distante e imponente, como uma montanha que até então mantivera-se coberta, é a minha.

Tomás J. A. Pinto

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