quarta-feira, 28 de março de 2007

Ferula Communis

Montes, pedras, erva, areia, corpos, aves famintas pelo cheiro a carne putrefacta. Era assim a Ilha Germinal. Os Deuses decidiram entregar uma prenda às entidades primordiais, filhos da terra e do sal. O custo da dádiva era incerto, tal como a prenda em si. Secretamente os Deuses poderosos tinham decidido como entregar a prenda celestial ao plano terrestre. Os seres primitivos teriam que lutar por ela, cegamente. E assim o fizeram. “Veneração”! A palavra rebenta estrondosamente nos ouvidos ingénuos dos homens-terra, acompanhada de chuva e trovoada, e a luta começa.
A luta termina com o fim da chuva, e somente um sobrevive. Um ser antropomórfico pisa as areias da ilha primordial, e entrega uma planta incandescente ao sobrevivente, apontando ao mesmo tempo para um objecto disforme e desconhecido. A planta encarcerava o fogo. O sobrevivente pergunta o que é, ao que o ser cósmico recita as palavras divinas, sem mexer a boca, o som saíndo de dentro da terra, e de volta dela. “Vai A-Dam. Leva o fogo e o barco. Do outro lado encontrarás a recompensa chamada Veah. A companheira eterna.”
Foi assim a primeira moira das entidades terrestres.

Tomás J. A. Pinto

N. A.: Moira significa Destino em grego.
Ferula Communis é uma planta umbelífera, em que o fogo arde lentamente sem se apagar. Os povos antigos utilizavam-na para transportar o fogo de um lugar para o outro, conservando-lhe.

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