terça-feira, 17 de abril de 2007

Bálburdia bestial de preceitos

Vejo as caras que surgem às janelas das vidas alheias. As perguntas, sendo sempre as mesmas, diluíem-se como sangue a escorrer para um fossa. Parte de mim faz parte da terra. Viemos todos do mesmo buraco, da mesma energia comprimida, e somos todos tão diferentes. A razão evolutiva e sociológica da diferença não compreendo ou tento compreender. Passamos todos pela mesma terra, deixando as mesmas pégadas ao rastejarmos espasmásticamente do mesmo deserto. A nossa forma é única e essencial, e não hesitamos ao destruí-la. A minha casa é a casa dos outros, e a minha pele morta é o pó deles. Trago grãos de areia entre os dedos dos pés, que largo, sem saber, a quilómetros de distância. O movimento, tão errático, torna-se monótono, como forças cósmicas. Somos puxados, ou somos nós que puxamos? Paradoxos inúteis em que nos perdemos, e nos encontramos novamente à partida. Definimos limites. Somos poderosos, somos dominantes, criando coisas que servem para dominar. Somos relativos e a incontornável verdade. Somos os nossos próprios dogmas, mas queremos a incompreensão, pois quando todo o mistério desaparecer, e as verdades alcançadas, podemos desaparecer com ele. Somos iguais na nossa diferença, mas as definições que me definem não permitem a inclusão dos diferentes. Somos a dúvida, a semente indevida no campo do nosso poder. Sou a imaginação, imaginada para me definir diferente dos outros.
Trago a ganância e destruo o meu potencial. A minha cura não me interessa. Sou a contradição. Sou aquele sonho de que acordo e esqueço logo. Outras coisas puxam-me, ou sou eu que as puxo?

Tomás J. A. Pinto

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