domingo, 1 de abril de 2007

Opiniões: formulando fórmulas.

No que diz respeito ao exercício criativo e argumentativo da escrita temos sempre que manter uma mente aberta, coordenadamente funcional com os conhecimentos de argumentação e gramática que nos é acessível. Mas por vezes recorremos a fórmulas pré-concebidas e estruturalmente necessárias para apresentar o assunto e uma moral adjacente (se houver). O que não é mau. As fórmulas permitem uma organização superficial que nos ajuda a encontrar a nossa forma expressiva. Encontramo-nos na nossa escrita, e a nossa escrita reflecte o nosso pensamento.

Dou muito valor às opiniões, mesmo às contrastantes com as minhas, desde que sejam inteligentemente elaboradas e não “só porque sim”. Gosto de uma boa discussão, menos aquelas em que os limites se excedem e corre-se o risco de perder um amigo. A argumentação mantém-nos alerta e perspicazes, valores necessários a uma boa observação.

Um amigo meu uma vez disse “tem que haver pessoas más para sabermos que somos boas pessoas”. A simplicidade destas noções sociais, que estão embuídas de moral, está alíada à sua função de tranquilizar e esclareçer. Avaliamos a nossa posição no mundo, que às vezes é demasiado grande para nós (e às vezes demasiado pequeno) e podemos pensar que é muito fácil julgar, mas é mais dificil aceitar um juízo diferente do nosso. O orgulho é atacado, e mesmo que ninguém goste de o ver ferido, perante uma inegável verdade somos forçados a aceitar. A aceitação leva ao desenvolvimento mental.

A perspectiva é igualmente importante no que toca a assimilar o que nos é transmitido, pois as nossas observações diárias são um resultado de vários factores. A publicidade, a verdade dos media, o governo do país, as novelas, os documentários, os debates, são tudo métodos subsidiários da televisão (que já uma vez denominei de Rectângulo Mágico, que atrai todos os que se deixam levar pelo maravilhoso virtual). A televisão é dominante na sociedade ocidental, e quer queiramos, quer não, acabará sempre por nos influênciar, pela positiva e, cada vez mais, pela negativa. Daí a necessidade da nossa noção de perspectiva se manter pessoal, enquanto o nosso conhecimento (aliado à inteligência perceptual da realidade) luta contra as forças persuasivas e distorçantes do virtual.

As fórmulas estruturais para a escrita criativa ou argumentativa, juntamente com uma perspectiva definida, juízos de valor, uma boa argumentação e estruturação, são a nossa maneira de transmitir o nosso grito. Esse grito pode significar o quer que seja, mas tem que ser perceptível. Temos todas as ferramentas que precisamos, e não temos desculpa por não intervir nesta mentalidade global que é a sociedade ocidental. Mas também é verdade que ao mesmo tempo que nos dão a capacidade de nos exprimir, são cada vez mais os que se vão exprimir. E isso faz do nosso grito um sussurro.

Tomás J. A. Pinto

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